A Investigadora Principal do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES-UC), Ana Cristina Santos, acaba de ganhar um financiamento de 2 milhões de euros atribuído pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC) para liderar o projeto TRACE – Cidadania Queer ao Longo do Tempo: Envelhecimento, idadismo e políticas LGBTI+ na Europa.

Ana Cristina Santos é Socióloga e Sócia da Associação Portuguesa de Sociologia.

Esta é a segunda vez que o ERC premeia o trabalho desenvolvido por esta investigadora. De acordo com Ana Cristina Santos, “o projeto TRACE centra-se na população lésbica, gay, bissexual, trans e intersexo idosa enquanto detentora de um saber precioso decorrente da sua experiência de memória, luta e resistência contra regimes opressivos”. O estudo incide sobre a Europa do Sul, investigando ao longo de 5 anos Portugal, Itália, Malta, Grécia e Eslovénia. Analisando, por um lado, o papel da União Europeia na transformação jurídica de cada país e, por outro, o impacto das políticas de igualdade ao longo da vida de pessoas LGBTI+, o projeto TRACE terá em conta diversas fases da História, desde a criminalização da diversidade, passando pela crise da SIDA/HIV até chegar às atuais políticas antidiscriminação.

Este estudo assume particular relevo no momento de turbulência política que a Europa atravessa. Nas palavras da investigadora responsável, “Os países incluídos no projeto TRACE oferecem uma imagem abrangente dos direitos humanos LGBTI na Europa do Sul ao longo do tempo, desde Malta com um índice de reconhecimento de 94% a Itália com apenas 22%, segundo dados da ILGA Europa. Trata-se de países que passaram de regimes políticos ou socioculturais repressivos para modelos que oferecem alguma proteção jurídica, mas nos quais podem observar-se os efeitos do populismo de extrema-direita e das campanhas anti-género.”

Ainda de acordo com Ana Cristina Santos, o principal objetivo do TRACE é “contribuir para políticas LGBTI+ inclusivas de pessoas com mais 60 anos, evitando o desperdício de experiência e produzindo conhecimento baseado em evidência sobre o envelhecimento LGBTI+”.

Com o TRACE, prevê-se um conjunto de impactos ao nível da produção de conhecimento científico original, formação de investigadoras/es em início de carreira, articulação com decisores políticos a nível nacional e europeu, capacitação de públicos diversificados e sensibilização social. Haverá lugar ainda para um filme documentário, uma exposição fotográfica e a criação do Arquivo online Vidas Queer 60+.

Socióloga e Doutorada em Estudos de Género, Ana Cristina Santos é Investigadora Principal no CES-UC, onde é Cocoordenadora do Programa de Doutoramento Direitos Humanos nas Sociedades Contemporâneas e Coordenadora da Linha Temática Democracia, Justiça e Direitos Humanos. Membro do Comité Executivo da Associação Europeia de Sociologia, tem publicado extensivamente e liderado uma série de projetos de investigação sobre temas LGBTQI+, género, corpo e cidadania íntima. Os seus livros mais recentes são: The SAGE Handbook of Global Sexualities e The Tenacity of the Couple Norm, publicados em 2020.

Esta bolsa é já o oitavo financiamento do ERC que o CES obtém nos últimos anos, conseguida nos concursos mais competitivos da Europa. O objetivo das bolsas Consolidator é o de apoiar as/os investigadoras/es numa fase em que estão a consolidar as suas equipas de investigação independentes. Neste cenário, é de sublinhar mais este reconhecimento da qualidade e inovação de projetos que são desenvolvidos pelas/os cientistas do Centro de Estudos Sociais.

Investigadores portugueses atraem mais 15 milhões de euros para investigação fundamental através do Conselho Europeu de Investigação

Os resultados do último concurso do Conselho Europeu de Investigação (ERC, sigla em inglês) incluem mais 15 milhões de euros para projetos de investigação científica desenvolvida por cientistas portugueses em território nacional, no âmbito do ERC Consolidator Grants e do ERC Starting.
Através do ERC Consolidator Grants, para investigadores individuais na fase de consolidação da sua investigação, Portugal captou 9,7 milhões de euros para cinco projetos nacionais, dos quais quatro na área das Ciências Sociais e Humanidades e um das Ciências Exatas e Engenharia:
  • Aceleração extrema de partículas em choques: do laboratório à astrofísica, Frederico Fiuza, Associação do Instituto Superior Técnico para a Investigação e Desenvolvimento – 1 799 990€
  • Circuitos Alimentares: Ligações Ocultas entre Migrantes e Sociedades, Seth Holmes, Instituto de Ciência Sociais – 2 017 409€
  • A cidadania Queer ao Longo do Tempo: envelhecimento, idadismo e políticas LGBTI+ relacionadas com a idade na Europa, Ana Cristina Santos, Centro de Estudos Sociais – 1 999 930€
  • Arquitetura da pesca: o continuum ecológico entre edifícios e espécies de peixes, Andre Tavares, Universidade do Porto – 2 001 468€
  • Trajetórias populacionais e dinâmicas culturais dos neandertais tardios no extremo oeste da Eurásia – João Cascalheira – Universidade do Algarve – 1 899 696€
O ERC aprovou ainda mais três projetos que se encontravam em lista de reserva no ERC Starting, aos quais atribuiu 4,95 milhões de euros.
Em janeiro já tinham sido aprovados cinco projetos portugueses no âmbito deste concurso, que captaram 8,3 milhões de euros, o que se traduz num total de financiamento de 13 milhões de euros e num recorde para Portugal: a escolha de oito projetos nacionais num só concurso ERC, neste caso o Starting Grants que apoia investigadores em início de carreira para que os mesmos possam constituir as equipas de investigação e desenvolver projetos em todas as áreas do conhecimento.
Os três projetos agora selecionados são:
  • Inês Fragata Almeida, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Feedback entre a dinâmica populacional e a evolução das interações num sistema tritrófico
  • Alex Armand, Universidade Nova de Lisboa, O impacto global da contaminação da água costeira no desenvolvimento económico
  • Waldan Kwong, Instituto Gulbenkian de Ciência, Fatores genéticos que permitem simbioses do microbioma: as abelhas como um sistema modelo natural.
Os resultados agora conhecidos demonstram o reforço da participação portuguesa no ERC e no Horizonte Europa, tendo Portugal captado, até agora, no que diz respeito às bolsas atribuídas pelo ERC, cerca de 24 milhões de euros.
Já em fevereiro tinham sido atribuídos pelo ERC 600 mil euros no contexto da iniciativa de Provas de Conceito do ERC (“Proof of Concept Grants”) a quatro projetos nacionais e que desta forma receberam uma extensão ao apoio financeiro concedido a projetos previamente selecionados para outras bolsas de investigação do ERC, fornecendo meios aos investigadores para que possam explorar e testar ideias e estabelecer parcerias visando aplicações dos resultados dos projetos de investigação anteriormente financiados pelo ERC.
Segundo dados do ERC, em média, cada projeto do ERC gera emprego para mais de 5 pessoas, desde investigadores a gestores de ciência, estudantes de doutoramento ou técnicos e representa um reconhecimento internacional da investigação realizada e um marco importante na independência científica destes cientistas em início de carreira.