16 e 17 de novembro de 2023 | Departamento de Línguas e Culturas, Universidade de Aveiro
Apresentação de propostas de comunicação: até 31 de maio de 2023
Remetido para um limbo crítico que razões de natureza ética e estética ajudam a explicar, o abundante corpus da literatura colonial portuguesa constitui, como, em estudo fundador, o considerou Francisco Noa, um “paradigma submerso”. Este exílio persistente justifica que a ele hoje se regresse, num esforço, lúcido e descomplexado, de indagação crítica renovada, tanto do seu valor histórico-documental, como do seu lugar literário.
Documentando as tendências, impasses e inflexões retóricas e doutrinárias da política colonial, dos alvores do Estado Novo ao início das contestações anticoloniais, a expansão da literatura de temática colonial – que, colhendo inspiração nos diferentes territórios do império, não deixará de conceder sintomática preponderância à “África portuguesa” – é indissociável de um projeto concertado de apoio oficial à produção cultural especificamente vocacionada para a divulgação metropolitana do património colonial. Reconhecendo-se como indeclinável o estímulo à criação de uma textualidade do império, assume, no contexto das inúmeras iniciativas de propaganda colonial, natural destaque o concurso de Literatura Colonial promovido anualmente, a partir de 1926, pela Agência Geral das Colónias.
Replicando, com declarada intenção legitimante e apologética, os argumentos ideológicos de que se alimentou a mística imperial portuguesa, difundida sob a égide da ditadura salazarista – a mitomania cristã nacionalista e a exaltação da gesta imperial, a defesa de um etnocentrismo de base racista como fundamento da missão civilizadora, a alternância entre o ufanismo megalómano do “vasto império” e a utopia agrária da “pequena casa lusitana” –, a literatura colonial não deixará de, sobretudo a partir da década de 60, naquela que foi já considerada a sua “fase cosmopolita”, dar voz intermitente, mas ainda assim audível, à expressão da ambivalência, da denúncia ou mesmo da dissensão explícita relativamente a ideologias e práticas coloniais.
Por outro lado, as várias genealogias em que entroncam os textos que integram este multímodo arquivo literário colonial (do relato de viagens à autobiografia, do romance de aventuras ao Bildungsroman), bem como a sua latitude genológica (recobrindo poesia, narrativa, teatro, roteiros de viagem, etc.) justificam que se proceda ao seu reexame atento sob uma ótica especificamente literária, permitindo neles sinalizar, para além da já diagnosticada repetição formular de temas e personagens, eventuais pontos de fuga ideológicos, singularidades de mundivisão ou originalidades compositivas.
Convidamos, assim, investigadores a submeterem propostas de comunicação que inequivocamente se enquadrem no âmbito da literatura colonial portuguesa. Serão, entre outros, eixos possíveis de reflexão:
- Os géneros: linhagens, confluências, interseções. Géneros literários e paraliterários; ficção e não-ficção: narrativa, poesia, teatro, literatura de viagens (crónica, roteiros, diários, reportagens), estudos monográficos e literatura científica (etnografia, antropologia, botânica, zoologia,…).
- Literatura, poder colonial e interdiscurso político: ortodoxia ideológica e propaganda; ambiguidade e ambivalência; denúncia e dissidência.
- Sociabilidades coloniais: declinações ficcionais da missão civilizadora (endoutrinamento, aculturação, missionação, evangelização, etnocídio); estratégias de construção da diferença colonial (estereotipia,
enselvajamento, estetização e fetichização do Outro). - Retóricas da raça: mistofobia e racismo; mistofilia e apologia do hibridismo; assimilação e cafrealização; multirracialidade e mestiçagem, ideário lusotropicalista e mito da originalidade imperial portuguesa.
- Cartografias coloniais: impulso geográfico e representação literária do cronótopo colonial; topografias referenciais e imaginárias; construção da alteridade geocultural; paisagismo nativista e cor local; pitoresco colonial e exotismo, tenebrismo e edenização do espaço colonial.
- Literatura colonial e instituição literária: concursos e prémios literários, circuitos de difusão, receção crítica, práticas de consumo.
- A literatura colonial ad usum delphini: a produção literária infantojuvenil de temática colonial e a pedagogia do império: temas, géneros, interdiscursos (literário, político, educativo…), imagens e representações, recursos verbo-visuais (incluindo desenho e ilustração).
Veja as datas importantes em Envio de propostas e inscrições.
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