Comunicado – Associação Portuguesa de Sociologia
É com profundo desagrado que a Associação Portuguesa de Sociologia encara os resultados do Concurso de Projetos de IC&DT em todos os domínios científicos.
Em primeiro lugar, a FCT apresenta, no seu site, indicadores incorretos e mistificadores. As percentagens de sucesso não têm em conta os projetos efetivamente submetidos (no caso da Sociologia, 125), mas apenas os que estão acima da linha de corte (58 projetos em Sociologia). Apenas uma ínfima parte destes – 5 em Sociologia – foi proposta para financiamento. Deste modo, o desastre é muito pior do que os números noticiados pela FCT evidenciam. Objetivamente, as taxas de sucesso rondarão os 5% em todas as áreas científicas (4% no caso da Sociologia). Esta situação, que decorre da disponibilização de montantes de financiamento extremamente diminutos face ao número de propostas submetidas, é agravada pelos hiatos muito longos entre as candidaturas e a saída de resultados e, do mesmo modo, sem abertura de novos concursos. No seu conjunto, isto conduzirá ao estrangulamento de qualquer desiderato de pesquisa científica inovadora, sistemática e consequente.
De igual modo, os critérios globais de afetação de recursos pela FCT, longe de serem transparentes e equitativos, concentram os apoios em domínios restritos adstritos a concursos para áreas específicas (como a inteligência artificial), por oposição a privilegiar uma distribuição equilibrada em todos os domínios científicos.
As baixas taxas de sucesso deste e de outros concursos (5% agora, 8% no Concurso de Estímulo ao Emprego Científico individual, CEEC) implicam que a imensa maioria dos investigadores esteja impedido de desenvolver as suas propostas, independentemente destas serem avaliadas como excelentes pelo júri respetivo. Relembramos que, no último concurso CEEC, não houve um único candidato aceite no painel de Sociologia para investigador principal (entre as propostas para financiamento em Sociologia encontramos apenas 7 investigadores juniores e 3 investigadores auxiliares). Acresce, que a contínua inclusão da Antropologia no painel de Sociologia, ignora, uma vez mais, as especificidades destas áreas científicas. Esta situações acarretam, inevitavelmente, efeitos nefastos nas possibilidades de produção de conhecimento científico por estas áreas disciplinares e, consequentemente, na sua consolidação científica e social.
A APS gostaria de salientar o papel crucial das ciências sociais, em particular da Sociologia, para superar os grandes desafios que se colocam nestes tempos de pandemia COVID-19 e a consequente necessidade de financiar as atividades de investigação neste domínio. Deste modo, torna-se impossível corresponder ao enorme esforço e às legítimas expetativas de tantas e tantos, numa altura de crise em que o conhecimento sociológico se afigura tão urgente, imprescindível e inadiável.
Lisboa, 10 de novembro de 2020
A Direcção da Associação Portuguesa de Sociologia
João Teixeira Lopes
Presidente