15 e 16 de fevereiro de 2024, Anfiteatro III, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

O Congresso Monoculturas: Perspetivas Eco-Culturais pretende convocar a reflexão de especialistas das ciências naturais, sociais e humanas em torno da problemática das monoculturas numa ótica eco-cultural global, explorando padrões de conexão entre cultura e natureza para lá de fronteiras epistemológicas e disciplinares. O desenvolvimento nos últimos 50 anos de ciências como a Ecologia, a Biossemiótica, e, mais recentemente, de campos de análise como a Ecocrítica e as Humanidades Ambientais vieram ajudar a superar divisões antigas entre cultura e natureza, mente e corpo, humano e não humano, texto e mundo. Hoje estamos mais conscientes da instabilidade inerente à divisão entre ambientes externos e internos ao ser humano. Esta ambiguidade reflete-se na própria palavra “cultura,” cujo significado remete tanto para paisagens físicas como mentais, para um processo contínuo de transformação criativa do que convencionámos chamar “natureza” e para a criação de obras conceptuais, literárias e artísticas que têm também como ponto de partida o mundo natural.

É precisamente ao dinamismo evolutivo e criativo dos ecossistemas da naturezacultura que as monoculturas se opõem enquanto campos semióticos uniformes, redundantes e inibidores de (bio)diversidade. Artificialmente criadas com intuitos meramente económicos, as monoculturas representam uma manipulação humana da natureza contra a própria natureza, afetando a qualidade de vida das espécies animal, vegetal e humana, e gerando situações de injustiça social, isolamento, exclusão, desorientação e perda de ligação ao território. Em torno desta problemática tem-se levantado, nos últimos anos, um intenso debate público passível de se reduzir, em termos gerais, a dois pontos de vista antagónicos: de um lado, os defensores do ambiente e das espécies humana e não humana, que procuram pôr em evidência  os prejuízos das práticas de cultura única para a biodiversidade e a justiça ambiental; em contramão, a retórica de empresários, produtores e seus defensores políticos,  acenando com valores económicos, como a criação de riqueza e de empregos, o fomento da atividade agrícola-florestal, o aproveitamento racional dos terrenos, a balança comercial, etc. Um pouco por todo o mundo, mas mais em países onde se verifica uma maior dependência das grandes indústrias multinacionais, como bem tem vindo a denunciar Vandana Shiva, entre outras/os pesquisadoras/es, as monoculturas são impostas aos povos com base no argumento da sobrevivência económica e segurança alimentar.

Num tempo de crise ambiental e alterações climáticas, o objetivo deste congresso é considerar o fenómeno das monoculturas à escala global, discutindo o seu impacto ecológico e cultural-social no planeta. Assim, para além do conhecimento empírico, de âmbito ecológico, importa conhecer o impacto das culturas de espécie única nas sociedades humanas e não-humanas por elas afetadas. As/os oradoras/es do congresso irão sugerir uma série de olhares cruzados que nos despertarão para as problemáticas ambientais associadas à exploração em monocultura de plantas e animais, bem como do predomínio de monoculturas da mente num mundo globalizado.

Em colaboração com o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra

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