Faleceu o Professor Immanuel Wallerstein aos oitenta e oito anos de idade. O falecimento deste destacado sociólogo empobrece-nos a todos, tal como deixa mais pobres o pensamento livre e a reflexão crítica que soube cultivar ao longo de décadas de vida académica intensa e comprometida com a cidadania global.
À Sociologia de origem da sua formação académica (Columbia University), quando foi assistente de Robert Merton, I. Wallerstein juntaria a investigação em história económica e social, em estreita colaboração com Fernand Braudel. Gradualmente, os seus escritos recentes, alguns traduzidos em mais de vinte línguas, entre os quais a última publicação traduzida em português – O Universalismo Europeu – vieram dar-lhe a feição de cientista político universal. O sociólogo Immanuel Wallerstein foi, no melhor sentido da expressão, um cientista social completo e um académico ativista com ação de enorme relevo internacional na interpretação do mundo moderno e das suas dinâmicas. Foi também um exemplo para a investigação científica em ciências sociais pela inspiração alternativa que ofereceu com infindável entusiasmo a sucessivas gerações de investigadores de todo o mundo.
Nome grado das Ciências Sociais, Immanuel Wallerstein esteve entre nós, em Coimbra na Faculdade de Economia e no Centro de Estudos Sociais, em diversas ocasiões para proferir conferências e dirigir seminários. O mérito do seu trabalho foi reconhecido e celebrado com a atribuição do Doutoramento honoris causa pela Universidade de Coimbra e pelo ISCTE-IUL. Immanuel Wallerstein foi Presidente da Associação Internacional de Sociologia (1994-98) e, nessa qualidade, em 1996, abriu o nosso III Congresso para nos prevenir de como é ilusória a estabilidade do mundo social e a sua mudança é eterna, mesmo que lenta.
Immanuel Wallerstein fundou e dirigiu ao longo de décadas o Fernand Braudel Center for de Study of Economics, Historical Sistems and Civilizations (Binghamton, Universidade do Estado de Nova Iorque). O FBC foi a instituição académica da sua vida, um lugar único de muito intensa e elevada atividade intelectual, onde o falecido Professor fez germinar e desenvolveu a escola do “sistema-mundo”, sempre rodeado de dedicados colegas como Terence K. Hopkins e Giovanni Arrighi entre outros, também eles comprometidos na busca de epistemologias críticas.
De trato afável, foi fácil privar com Immanuel Wallerstein e estabelecer com ele uma relação afetuosa de anos de profunda camaradagem intelectual. Ao deixar registada a sua morte, morre-se também um pouco.
Neste momento de perda, a Associação Portuguesa de Sociologia presta a mais sentida homenagem a este colega e mestre, no respeito e gratidão pelos ensinamentos que trouxe à nossa área do conhecimento.
Carlos Fortuna
[Foto obtida em https://www.iwallerstein.com/]