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O presente artigo tem como finalidade apresentar uma análise sobre as desigualdades de género existentes no mercado de trabalho açoriano e aprofundar o caso específico dos jovens, a partir das suas perceções. Para isso foram analisados os dados dos Quadros de Pessoal de 2019, relativos à população empregada no setor privado, a que se seguiu uma análise em profundidade com base na realização de entrevistas a 24 jovens. Os resultados apontam para a permanência de desigualdades de género no mercado de trabalho açoriano, notando-se, todavia, uma certa invisibilidade destes fenómenos na perceção dos jovens, que tendem a alinhar os seus discursos pelo ideal da igualdade de género. A análise da conciliação emprego-família pelos jovens casais revela a permanência de assimetrias de género, especialmente quando está em causa o cuidado aos filhos, associadas a perceções que naturalizam estereótipos de género e invisibilizam o seu impacto na carreira profissional das mulheres.

The austerity policies implemented following the financial crisis of 2008 in Portugal led to high contention in the public sphere. New, mostly young, and urban social movements took central stage in organising it, often articulated with traditional actors (labour unions or left-wing political parties). These movements presented a very unified image and message to the public, the media, and the institutions whose policies they opposed, based on a shared interpretation of social justice. These coalitions included feminist and LGBTQIA+ organisations, with a story of past activism which is said to have been pushed aside so they could cooperate in the priority anti-austerity arena. This paper questions whether these identities were indeed side-lined, relying on content analysis of materials made available online by those organisations to argue that feminist and LGBTQIA+ protesters framed their mobilisation through a gendered interpretation of the events and consequences of austerity, closely related to their previous values, beliefs, and incentives to participate in social activism.

O familiarismo é uma das várias tradições transversais da história da deficiência, sendo mesmo uma realidade anterior ao processo de institucionalização. A literatura sobre o paradigma Vida Independente mostra o papel crucial da assistência pessoal na vida das pessoas com elevado grau de dependência para a criação de mais oportunidades de ativação, através de uma menor dependência de cuidados informais. Porém, os dados disponíveis refletem uma inadequação e uma insatisfação com os serviços na área da deficiência na União Europeia (UE), mesmo em países que já dotaram formalmente os seus regimes de deficiência com instituições promotoras do paradigma Vida Independente. Partindo da análise comparada entre Espanha, Itália, República da Irlanda e Portugal, tenta-se responder à questão: será que o nível de generosidade do Modelo de Apoio à Vida Independente (MAVI) português garante a desfamiliarização e termina com a dependência de cuidados informais? Os resultados comparados mostram uma forte dependência entre pessoas com deficiência e seus cuidadores/familiares, mesmo em programas de assistência social mais generosos. Corre-se, assim, o risco do verdadeiro potencial emancipador de um MAVI) não vir a ser atingido se se basear apenas na transferência dos cuidados familiares para a assistência pessoal. O sucesso deste processo de desfamiliarização depende do desenvolvimento de um ambiente seguro para todas as partes envolvidas, do reconhecimento e valorização dos conhecimentos e experiências da pessoa dependente e do cuidador informal, e da criação de uma microrrede de apoio associada a experiências significativas e valores.

O artigo explora a forma como se constrói e se representa a intimidade nas relações entre irmãs e irmãos, estabelecendo a coabitação e as práticas familiares como potenciadoras desta conexão. Com base em 68 entrevistas realizadas com recurso à foto-elicitação que reúnem 25 fratrias, das quais 9 recompostas e 16 nucleares, procurou-se compreender o que origina relações fraternais mais íntimas, mais próximas, mais familiares. Os dados mostram que a intimidade não é inata ao parentesco, mas sim criada, reproduzida e sustentada no quotidiano, através do tempo — nas trajetórias individuais e familiares — e perpassada no espaço — sobretudo, na fase da coabitação. Interpelar a intimidade nesta heterogeneidade permitiu: i) retratar diferentes níveis de intimidade e renunciar à idealização e uniformidade deste objeto; ii) tornar vísivel que estas relações não se estabelecem a partir do laço sanguíneo, e que precisam de outros elementos para serem consolidadas, reforçadas e (re)confirmadas.

Este texto considera o território como um espaço em permanente transformação, originada pela ação dos diferentes atores e pelas interações que mantém entre si e com outros, num sistema aberto, e assume a metodologia prospetiva como uma abordagem útil para compreender o jogo de atores de um determinado sistema, capaz de contribuir para a construção coletiva de uma visão de futuro.
Apresenta-se e discute-se um “estudo de caso”, onde o uso da prospetiva estratégica se evidencia enquanto metodologia útil à tomada de decisão de atores municipais, no quadro da sua cooperação, evidenciando as componentes e os fatores condicionadores dessas relações em diferentes tempos de ação.
Em termos metodológicos, apresenta-se a análise estratégica de atores, operacionalizada através do método MACTOR (Método Actores, Objetivos; Relações de força), identificando-se, assim, os jogos e as relações de força entre os atores no âmbito do sistema de relações municipais do território em análise.
Os resultados evidenciam os fatores-chave do sistema de cooperação do Alto Alentejo, que os atores podem considerar para responder aos desafios colocados pelos novos modelos de políticas públicas, nomeadamente a necessidade de empreender ações multinível, multisetorial e multiescalar para a mudança desejada, salientando-se o papel das autoridades centralizadas de cooperação, nomeadamente, Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo ou Entidade Regional de Turismo do Alentejo, neste contexto.

O processo de integração europeia foi, possivelmente, o fator mais decisivo no percurso da formação social portuguesa desde o 25 de Abril de 1974. Para a generalidade dos analistas e quase todas as forças políticas, a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE) encontra-se diretamente associada à construção do sistema democrático, tendo contribuído para ultrapassar a herança institucional e política do Estado Novo, para modernizar as infraestruturas e a estrutura produtiva do país, para transformar uma sociedade rural, pobre, e em muitas dimensões bastante conservadora, numa sociedade mais afluente, moderna, dinâmica e aberta. Sob a ideia de convergência, parte substancial da sociedade portuguesa ambicionou fazer parte do pelotão da frente, e sonhou tornar-se europeia. A base deste consenso europeísta, que persiste mesmo depois da grande crise financeira de 2007 e das políticas de austeridade que se lhe seguiram, assenta numa série de leituras sobre as causas do atraso português — normalmente imputado a razões de natureza interna — e sobre a lógica da integração europeia — tomada quase sempre como um projeto cosmopolita e democrático, de paz e prosperidade. (…)