Com o desiderato de contribuir para o alargamento do conhecimento sociológico sobre os adultos pouco escolarizados que, apesar das mais recentes iniciativas no âmbito da educação e formação de adultos e da aprendizagem ao longo da vida, têm permanecido fora da educação formal, apresenta-se um primeiro recorte dos resultados da etapa qualitativa do estudo. Incidindo sobre um segmento que, a nível nacional, tem permanecido à margem das sociedades educativas, procura-se compreender se estamos perante indivíduos que têm ficado de fora, ou que têm sido deixados de fora da educação e aprendizagem ao longo da vida. Norteada pela abordagem biográfica, esta etapa permitiu captar os perfis de reflexividade, as origens sociais, condições de vida e as redes de sociabilidade de 21 entrevistados/as. Os resultados aqui apresentados permitiram atestar a diversidade deste segmento, e o impacto destas dimensões na construção do património disposicional no que à relação com a educação e a aprendizagem diz respeito.
Este estudo teve como objetivo avaliar a validade de uma versão adaptada ao tema do ambiente do Questionário de Fundamentos Morais (QFM), e que assenta em cinco fundamentos morais na sua polaridade: dano/cuidado, justiça/reciprocidade, pertença/lealdade, autoridade/respeito e pureza/santidade.
Um total de 179 pessoas participaram em todas as fases do processo. A partir da versão em português do Questionário de Fundamentos Morais (Silvino et al., 2016), e tendo também em consideração o Questionário do Observatório do Consumo Consciente (QOCC), de Loureiro et al. (2017), fez-se uma análise da adequação, para a língua portuguesa e para o tema do ambiente, assente em análises fatoriais. Concluiu-se que uma tipologia assente em dois fatores é a melhor forma de analisar o QFM. Um fator mais da ordem do individual e um segundo mais da ordem da coesão, o que está de acordo com a Teoria dos Fundamentos Morais (TFM) pois agrupa os fundamentos “dano” e “justiça” em relação aos restantes. Encontramos validade nos fundamentos de coesão e concluímos que o instrumento faz a distinção entre os padrões de moral individualizante e de ligação. Dano e cuidado surgem como os mais influentes e a sua carga fatorial corrobora a versão inglesa e original.
Adaptação do questionário dos fundamentos morais ao tema do ambiente
Pedro Rodrigues Costa
Edson Capoano
Processos de transnacionalismo nos empresários nepaleses em Lisboa
Alexandra Pereira
Partimos de um enquadramento teórico que se sustenta nos conceitos de transnacionalismo económico, empresarialismo migrante, economias étnicas e diásporas. Neste estudo, temos como principal objetivo analisar os processos de transnacionalismo envolvidos nas atividades dos empresários de origem nepalesa com negócios na cidade de Lisboa. Este enfoque numa população imigrante que é mais recente em Portugal, menos conhecida e em crescimento torna este trabalho particularmente relevante. Trata-se de um estudo qualitativo que engloba 36 entrevistas semi-estruturadas a empresários nepaleses, etnografia e observação participante. Nos resultados analisamos os perfis dos empresários nepaleses, examinamos estratégias de financiamento e formas específicas de desenvolvimento empresarial, bem como modos de transnacionalismo envolvidos. É feita ainda uma comparação com outros empresários imigrantes sul-asiáticos em Lisboa. As conclusões destacam a relevância das redes étnicas transnacionais nepalesas, bem como das estratégias de negócio de base étnica, no empreendedorismo nepalês, permitindo colocar a hipótese da existência de várias economias étnicas separadas nesta migração; foram igualmente detetadas novas formas de transnacionalismo migrante económico.
Neste ensaio examino as diferenças existentes entre o multiculturalismo e o interculturalismo assumindo que não somente representam modelos diferentes, como a sua institucionalização se situa a escalas distintas. Primeiro, ofereço um sistema de premissas para identificar o âmbito de uma prática ou política multicultural. Segundo, coloco em relevo os autores que entendem o interculturalismo como uma mera variação retórica do anterior multiculturalismo. Terceiro, procuro mostrar como podemos diferenciar os dois modelos partindo das suas lógicas institucionais. Finalmente, e com a brevidade de um ensaio, aponto algumas fragilidades ao multiculturalismo que tornam mais pertinente a crítica ensaiada pelos defensores do interculturalismo, bem assim como as suas principais propostas. Concluo salientando algumas premissas do interculturalismo onde se sustentam diferenças substantivas com o multiculturalismo.
Deu à estampa em junho de 2022, pela mão das Edições Húmus e com a chancela do CICS.NOVA/Edições, o título Atores da educação musical. Etnografia nos programas socioculturais El Sistema, Neojiba, Orquestra Geração (355 págs.), da autoria de Alix Didier Sarrouy.
Como o título enuncia, o assunto do livro é a utilização da música para fins educativos junto de populações jovens residentes em ambientes urbanos socioeconomicamente desfavorecidos, tendo como unidade de análise três núcleos — Santa Rosa de Agua, Bairro da Paz e Miguel Torga — pertencentes a três programas socioculturais desenvolvidos em latitudes diversas, respetivamente o El Sistema (Venezuela), o Neojiba (Brasil) e o Orquestra Geração (Portugal). (…)