(Segunda) Nota sobre a campanha da APS para a prevenção do plágio e promoção da integridade académica no ensino superior português
Madalena Ramos (CIES-IUL, ISCTE-IUL), madalena.ramos@iscte-iul.pt
César Morais (CICS.NOVA, FCSH-UNL), calm@fcsh.unl.pt
Durante o 2º semestre do ano letivo transato realizámos quinze vezes o Workshop “Plágio e Integridade Académica” em nove universidades com cursos na área da Sociologia. Nesta nota fazemos um balanço sumário desses Workshops e reiteramos uma proposta que neles, e através deles, foi desde logo lançada.
Agradecemos primeiramente à Associação Portuguesa de Sociologia (APS) por ter promovido este Workshop e financiado as deslocações dos seus autores, aos colegas que o acolheram e publicitaram nas suas instituições e a todos quantos neles participaram.
Este Workshop procurou contribuir para a prevenção do plágio partindo do pressuposto que para não o cometer, além da necessária adesão a uma pauta moral de honestidade, é também imprescindível a aquisição de um conjunto de conhecimentos e de competências que, apesar de transversalmente exigido a todos os académicos, surge raras vezes sistematizado nas práticas pedagógicas que os (en)formam, nomeadamente (mas não exclusivamente), saber como reconhecer as várias faces do plágio académico, realizar pesquisas de fontes científicas, fazer citações diretas ou indiretas e referenciar as fontes utilizadas.
Em cada instituição visitada divulgaram-se os códigos de ética e regulamentos que nessa instituição enquadram o plágio e as demais fraudes académicas, dado que constituem, per se, valiosos instrumentos de dissuasão e são estes aí maioritariamente desconhecidos. Este momento de promoção da honestidade académica passou ainda por um apelo à imaginação sociológica dos participantes, incentivando a sua reflexão sobre as implicações a nível coletivo das práticas fraudulentas individuais.
O público numeroso e diverso presente na maioria das sessões, as suas intervenções sagazes e o interesse pronto e empenhado dos colegas que receberam este Workshop, indiciam a relevância desta iniciativa que, aliás, foi também invariavelmente ressaltada em conversas informais com esses colegas e outros académicos presentes nas sessões, unanimes também em considerar – cada vez mais – deficitária a proficiência na escrita intertextual e na aplicação das normas em vigor nesse âmbito – especialmente – entre os recém-chegados ao ensino superior, assim como escassos os momentos dedicados a colmatar essas lacunas.
Salientamos que nas várias instituições visitadas nos deparámos com mais semelhanças do que diferenças, quer na relação com a fraude e o plágio, quer nas políticas institucionais relacionadas com essas práticas, quer ainda nas incertezas e ansiedades que geram. Mas, sobretudo, sobressaiu uma clara predisposição, tanto de discentes, como de docentes, para debater os atuais contornos da fraude académica e os procedimentos existentes para a sua prevenção, vigilância e punição – mesmo que esta predisposição esteja por vezes ancorada num relativo mal-estar face aos atuais procedimentos e seus resultados.
Apesar das suas insuficiências e limitações, não podemos deixar de considerar esta iniciativa bem-sucedida e coerente com as preocupações que estas temáticas suscitam atualmente nas academias. Não existindo condições para repeti-la no ano letivo que agora inicia, apesar dos apelos nesse sentido e da nossa vontade de a eles aceder, estamos, porém, e tal como se prometeu durante o Workshop, disponíveis para partilhar os seus pontos de ancoragem teóricos, os materiais que construímos e as ilações que retirámos ao longo de várias sessões com públicos diversos – e que, aliás, sistematizamos em texto, entretanto submetido a avaliação para publicação. Mesmo que esta iniciativa pedagógica reflita as práticas e convenções da área de formação e de docência dos seus autores – a sociologia –, julgamos que possui uma transferibilidade elevada, alicerçada noutras experiências pedagógicas similares e em coerências entre comunidades académicas e científicas, nacionais e internacionais, não obstante as particularidades de instituições ou áreas de estudo específicas.
Ainda que a campanha da APS em prol da prevenção do plágio e da promoção da integridade académica prossiga sob outros formatos, pensamos que cabe a cada um de nós redobrar esforços no sentido de garantir que todos possuem os conhecimentos e competências necessários para reconhecer e evitar fraudes não intencionais, dedicando particular atenção aos recém-académicos, mas não esquecendo os veteranos. Trata-se de assumir uma perspetiva mais didática do que moralista face ao plágio, em particular, e à fraude académica, em geral, contribuindo assim para a construção de uma melhor academia e para desmontar uma noção de senso comum que se tem vindo a naturalizar e na qual se justifica a atual prevalência da fraude – académica, mas não só – unicamente através de uma irreversível e generalizada corrosão do carácter imposto por desígnios insondáveis da modernidade.
(Uma primeira) Nota sobre a campanha da APS para a prevenção do plágio e promoção da integridade académica no ensino superior português
Madalena Ramos (CIES-IUL, ISCTE-IUL)
César Morais (CICS.NOVA, FCSH-UNL)
A direção da Associação Portuguesa de Sociologia (APS) desafiou as instituições universitárias que oferecem formações em sociologia para se associarem a uma campanha que tem por principal objetivo a prevenção do plágio e a promoção da integridade académica no ensino superior português.
Esta campanha materializa-se junto de estudantes e docentes de sociologia através da realização do Workshop “Plágio e Integridade Académica” nas suas instituições de ensino. Neste Workshop situa-se o plágio no universo das fraudes académicas e analisa-se o enquadramento dessas práticas nos regulamentos da instituição visitada. Em seguida, explica-se o que é o plágio, as razões pelas quais não deve ser cometido, as ferramentas para a sua deteção e também as práticas mais eficazes para o evitar. Por último, promove-se um debate em torno da fraude e integridade em contexto académico.
O desafio lançado pela APS foi prontamente aceite por várias instituições, o que já se traduziu em vários Workshops realizados em cinco instituições e agendados noutras três/quatro até ao início de maio. Este interesse pronto e generalizado constituiu um primeiro indício, quer da relevância destas temáticas nas agendas institucionais, pelo menos nas sociológicas, quer do interesse em debatê-las de forma alargada, quer ainda da importância atribuída à prevenção do plágio e promoção da integridade académica junto de alunos nos vários ciclos de ensino. Estas primeiras impressões foram depois confirmadas durante a presença dos coordenadores desta campanha nessas várias instituições, tanto em conversas coloquiais com representantes de órgãos institucionais e com outros colegas, como nas ocasiões de interação com os participantes nos Workshops.
Com efeito, os momentos de partilha proporcionados pela itinerância desta campanha – e dos seus coordenadores – têm constituído uma oportunidade ímpar para entrever a atual relação das instituições visitadas e dos seus membros com a fraude e a integridade académica, assim como para conhecer algumas das inquietações e controvérsias que estes temas suscitam presentemente nessas academias. Dado o principal objetivo desta campanha, não podíamos enjeitar esta rara possibilidade para encetar um processo informal de observação direta e participante, procurando preservar as (situ)ações que a nossa presença despoleta para depois sistematizá-las num quadro geral de reflexões que, articulado com o conhecimento de que dispomos sobre os estudos que versam a fraude na academia portuguesa e também com o balanço que faremos desta campanha da APS, divulgaremos posteriormente à guisa de nota conclusiva.
Nesta primeira nota, porém, não podemos deixar de tornar público o nosso agradecimento a todos os colegas que tão bem nos acolheram nas suas instituições e que connosco estabeleceram frutuosos diálogos, assim como a todos os participantes nos Workshops pela sua presença atenta e intervenções sagazes, esperando também que estes nossos encontros permitam reforçar o debate sobre a prevenção, vigilância e punição da fraude nas vossas instituições, rumo a um ensino superior cada vez mais íntegro.
Workshops realizados
– Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa: 19 de novembro, 3 e 17 de dezembro de 2018 [estudantes de 1º e 2º ciclo]
– Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra: 12 de fevereiro de 2019 [estudantes de 1º e 2º ciclo]
– Faculdade de Economia da Universidade do Algarve: 21 de fevereiro de 2019
– Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade da Beira Interior: 25 de fevereiro de 2019
– Faculdade de Letras da Universidade do Porto: 28 de fevereiro de 2019
– Faculdade de Letras da Universidade do Porto: 6 de março de 2019
– ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa: 28 de março de 2019 – 17h00/19h00
– Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa: 1 de abril de 2019 – 14h00
– Universidade do Minho: 5 de abril de 2019 – 14h300
– Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa – 8 de abril de 2019 – 14h00
– Universidade de Évora – 6 de maio de 2019 – 11h00
O que é:
Trata-se de um workshop dinamizado por Madalena Ramos (CIES-IUL, ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa) e César Morais (CICS.NOVA, FCSH-UNL) e promovido pela APS.
Este Workshop surge na sequência do desafio lançado pela direção da Associação Portuguesa de Sociologia aos Departamentos de Sociologia: o de se associarem a uma campanha para a prevenção da fraude académica e promoção da integridade no ensino superior português.
Esta campanha passa pela realização de um Workshop, destinado a estudantes dos vários ciclos de ensino (aberto à participação de docentes) e tem como principal objetivo a prevenção da prática do plágio.
Na agenda do Workshop constam: a contextualização do plágio no universo das fraudes académicas; a análise do enquadramento institucional da fraude académica; a identificação dos elementos que caracterizam o que é o plágio; as práticas mais eficazes para evitar o plágio; a realização de exercício(s) prático(s) com os estudantes; e o debate aberto aos participantes em torno da fraude e integridade em contexto académico.