Identidades ao rubro: diferenças, pertenças e populismos num mundo efervescente
29 a 31 de março, 2021
ONLINE
Escola de Sociologia e Políticas Públicas do Instituto Universitário de Lisboa (ESPP/ISCTE-IUL ) e Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa)
Discurso de abertura do Presidente da Associação Portuguesa de Sociologia, João Teixeira Lopes [ver aqui]
Opening Speech by the President of the Portuguese Association of Sociology, João Teixeira Lopes [here]
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Áreas e Secções Temáticas do XI Congresso Português de Sociologia – Call
O avolumar das desigualdades e o seu cariz multidimensional e cumulativo têm instigado lutas por redistribuição, de várias orientações, matizes e contornos, mas cujo desígnio maior é a busca de (maior) igualdade. A dominação e a privação associada às desigualdades tem sido também fonte inesgotável para o conhecimento sociológico, desde os primórdios da sua fundação como ciência do social até às mais recentes denúncias da sociologia crítica.
Em simultâneo, observam-se também dinâmicas sociais contrastantes, ancoradas na defesa do respeito pelas diferenças, traduzida em lutas por reconhecimento – cultural e/ou identitário. E neste caso, o património sociológico acumulado tem igualmente contribuído para o conhecimento e compreensão das complexas lógicas da produção social de si e das suas pertenças.
As questões à volta das identidades são hoje um tema efervescente, por razões nem sempre coincidentes. Por um lado, reconhece-se crescente legitimidade a experiências e percursos outrora silenciados e invisíveis e que procuram, nas esferas públicas, conquistar e exercer o direito de falar de si mesmos nos seus próprios termos. Por outro, assiste-se a um recrudescimento de diferenças incomunicantes e de exclusão, como que a provar que a história não é uma teleologia ou seta de sentido único, já que nela se inscrevem encruzilhadas e bifurcações onde as regressões se apresentam enquanto miríficas soluções que recrutam cada vez mais adeptos.
A análise fina da ancoragem social da produção de identidades permitirá deslindar como, na pluralidade das interações sociais, se forjam maneiras de agir, pensar e sentir, devedoras dos pesos e contrapesos da classe, do género, da etnia, da orientação sexual, da religião, da idade…De igual modo, suscitará a necessidade de ultrapassar um pensamento pobre, avesso à complexidade, aos trânsitos e às intermitências, que habitualmente se exprime por artificiais pares binárias, exigindo a mediação entre as intrincadas e plurais pregas do social.
Importa saber até que ponto existe, e quem representa e protagoniza, na prática, uma multivocalidade comunicante, isto é, uma cultura universal de reconhecimento e tradução das diferenças, de convivência entre iguais, pois só a diferença relaciona, só ela permite, pela sua singularidade partilhada, encontrar pontes e construir comunidades. Para tal, seria crucial a incorporação da consciência prática da interseccionalidade e das modalidades e metamorfoses através das quais, para seguir a proposta de Nancy Frazer, se cruzam e acumulam injustiças económicas, culturais e políticas, associando a necessidade de políticas de redistribuição, de reconhecimento da diferença e de representação.
Paralelamente, reativam-se identidades realistas, assentes em ideologias de pureza, fortemente arreigadas em crenças de fechamento social. Alguns destes movimentos são abertamente proselitistas da exclusão e do ódio, recorrendo, não raras vezes, à violência e conquistando crescente adesão, a ponto de colonizarem instituições do Estado, partidos políticos e areópagos internacionais, bebendo na vulnerabilidade social de crescentes franjas sociais.
Ambas as tendências – emancipatória e de dominação – configuram hoje os processos de globalização e convidam ao estudo e debate das suas diferenças, bem como das suas zonas de sobreposição.
XI Portuguese Congress of Sociology
Heated identities: differences, belonging, and populisms in an effervescent world
Lisbon, ESPP/ISCTE-IUL and ICS-ULisboa, 29-31 March, 2021 – Online
Equality and difference are dilemmatic dimensions of contemporary times.
The increase of inequalities and their multidimensional and cumulative nature have instigated struggles for redistribution, with varying orientations, tones, and contours, but whose main purpose is the search for (greater) equality. The domination and deprivation associated with inequalities have also constituted an inexhaustible source for sociological knowledge, from its early foundation days as a social science to the latest indictments of critical sociology.
Simultaneously, we also observe contrasting social dynamics that are anchored in the defence of respect for differences, materializing in struggles for cultural and/or identity recognition. Here, an accumulated sociological legacy has also contributed to the knowledge and understanding of the complex logics underlying the social production of itself and its modes of belonging.
Today, the issues surrounding identities are an effervescent topic, for reasons which don’t always coincide. On one hand, increasing legitimacy is given to experiences and paths that were once silenced and made invisible, and which now seek to gain and exercise the right to speak of themselves, on their own terms, in the public sphere. On the other hand, we witness a resurgence of incommunicating differences and exclusion, evidencing that history is not teleological or a one-way route, as crossroads and bifurcations appear in it, prompting regressions that present themselves as increasingly popular and miraculous solutions.
The fine analysis of the social anchoring of the production of identities allows us to reveal how ways of acting, thinking, and feeling are forged, through the different social interactions, in accordance with the weights and counterweights of class, gender, ethnicity, sexual orientation, religion, age… It also motivates the need to overcome a current of thought that is lacking and averse to complexity, transits, and intermittences, usually expressed through artificial binary pairs, demanding mediation between the intricate and plural social folds.
It is important to determine the extent to which, in practice, a communicating multivocality – that is, a universal culture of recognition and translation of differences, of coexistence among equals – and its representatives and protagonists exist, since only difference creates relations, only it allows, by a shared singularity, to find bridges and build communities. To this end, it is crucial to incorporate the practical awareness of intersectionality and the modalities and metamorphoses through which, as Nancy Frazer proposes, economic, cultural, and political injustices intersect, combining the need for policies of redistribution, recognition of difference, and representation.
In parallel, we witness the reactivation of realist identities, based on ideologies of purity and firmly rooted in beliefs of social closure. Some of these movements openly proselytize exclusion and hatred, often resorting to violence, and have gained increasing support, to the point of colonizing state institutions, political parties, and respected international bodies, nourished by the social vulnerability of growing social fringes.
Both tendencies – emancipatory and of domination – today shape the processes of globalization and invite the study and debate of their differences, as well as their overlapping areas.
To discover the configurations of contemporary identity processes, in their confrontations and complexity, is the goal of the XI Portuguese Congress of Sociology, titled Heated identities: differences, belonging, and populisms in an effervescent world, which will be held in Lisbon, March 29-31, 2021, under the local organization of ESPP/ISCTE-IUL and ICS-ULisboa.
More information and abstracts submission at https://xi-congresso-aps.eventqualia.net
Submission of abstracts by October 20, 2020.