A simplificação de fenómenos sociais complexos tem conduzido a um debate alargado sobre a polarização crescente das sociedades em que vivemos. Marcando as tendências de transformação social a que assistimos, a polarização tomou conta do debate intelectual e de agendas comerciais, políticas e ideológicas. Um renovado e sagaz olhar sociológico torna-se uma condição fundamental para analisar e enfrentar a fragmentação crescente da sociedade em torno de questões cruciais para o futuro coletivo da humanidade.
Visões, elas próprias, contraditórias e fraturantes de um mundo ora unipolar, ora bipolar, ora multipolar, ou até mesmo marcado por polaridades emergentes constituem um desafio inicial para o debate sociológico nos diversos domínios em que a APS se organiza enquanto sociedade científica e profissional.
Se os polos que se afirmam e se consolidam na estratificação social refletem dramaticamente as desigualdades sociais que nos revelam hiatos crescentes entre os mais ricos e os mais pobres, os mais e os menos escolarizados, ou que evidenciam o acantonamento das classes médias, convidando a leituras bipolares, que novas dinâmicas permitem enfrentar uma sociedade de fossos crescentes e aparentemente intransponíveis?
Os desafios que a polarização traz à sociologia estendem-se atualmente a domínios cruciais dos processos e da ação social, atravessando, entre outros, o mundo do consumo, das religiões, das identidades, da sexualidade e do género, da infância, da cultura e da ciência. Neste contexto, a digitalização da sociedade e da economia, ao mesmo tempo que abre novas possibilidades, cria e acentua dinâmicas de polarização. Até que ponto os novos media sociais, para além do impacto geral nas interações e nas práticas sociais, são, eles mesmos, um fator que impulsiona formas de polarização?
A modificação das relações de trabalho e de emprego trazida pela economia das plataformas é mais um fator de exclusão do mercado de trabalho ou mais um fator de desqualificação para ocupações rotineiras crescentemente precarizadas? Que oportunidades traz consigo e quem delas beneficia? De que forma e até que ponto a polarização dos empregos ameaça e obriga a repensar mecanismos de ação social e políticas públicas?
No plano territorial, onde se manifestam fenómenos relacionados com o turismo, as migrações, o desporto, a polarização urbana acentua tendências de concentração em lugares centrais e faz emergir novos desafios, quer para as centralidades, quer para as periferias. Neste contexto, qual o lugar e que formas de articulação entre políticas centrais e locais podem contribuir para abordar uma polarização que acentua exclusões e desigualdades de natureza territorial?
Se a pandemia cavou e reforçou clivagens, se pulverizou o universo das emoções, em que domínios mais exacerbou a polarização? Que consequências trouxe para a confiança depositada nas instituições e organizações que nas áreas da saúde, da educação, da justiça e da administração estruturam o funcionamento das sociedades e que vivemos? Qual o lastro das políticas securitárias que acabou por legitimar, designadamente em matéria de segurança?
O Congresso Português de Sociologia será um momento de encontro em presença e à distância para muitos dos colegas de profissão a trabalhar na investigação ou no terreno em que a partilha e discussão de conceitos, teorias, metodologias e práticas n(d)a sociologia poderão semear novas respostas para os desafios que enfrentamos. Gostaríamos muito de contar com a participação de sociólogos que trabalhem em contextos não académicos e que possam trazer o seu olhar “do terreno” que complementa a perspetiva da investigação académica. A colaboração entre a sociologia académica e a sociologia de intervenção é crucial para conhecer e agir nas sociedades polarizadas em que vivemos.
Apelamos à participação de todas e todos neste encontro crucial para a sociologia em português e que há tanto tempo esperamos!
Discutir se a polarização da sociedade nos conduziu ou não a um ponto de não retorno é um dos objetivos do XII Congresso Português de Sociologia sob o lema Sociedades Polarizadas? Desafios para a Sociologia, que se realizará de 4 a 6 de abril de 2023, sob a organização da APS e da comissão local do grupo de sociologia da FEUC, do CES, da CMC e da CIM.
Envio de resumos até 30 de novembro de 2022!
Submeta da sua propostas AQUI
O XII Congresso irá realizar-se na modalidade presencial existindo também a possibilidade de realização de sessões de apresentação de comunicações das Secções/Áreas Temáticas na modalidade online.
Ao entregar a sua proposta deverá indicar se a sua participação será presencial ou online. O programa irá assim ter algumas sessões presenciais e outras online.
Quem se tiver inscrito na modalidade presencial fará a apresentação da sua comunicação numa sessão exclusivamente presencial mas poderá assistir às sessões online que desejar.
Quem se tiver inscrito na modalidade online fará a apresentação da sua comunicação numa sessão exclusivamente online e terá acesso a todas as sessões online que desejar.
The simplification of complex social phenomena has led to a broad debate on the growing polarization of contemporary societies. Marking the trends of social transformation that we are currently witnessing, polarization has taken over the intellectual debate as well as commercial, political, and ideological agendas. A renewed and keen sociological perspective thus becomes a fundamental condition to analyse and confront society’s growing fragmentation on crucial issues for the collective future of humanity.
The contradictory and fracturing outlooks of a world that is at times unipolar, bipolar, multipolar, or even characterized by emerging polarities, constitute the initial challenge for sociological debate in the various domains around which the APS is organized as a scientific and professional society.
If the poles that assert themselves and are consolidated in social stratification dramatically reflect social inequalities that reveal growing gaps between the richest and the poorest, the most and the least educated, or that show the entrenchment of the middle classes, inviting bipolar interpretations, what new dynamics allow us to face a society of broadening and apparently insurmountable chasms?
The challenges that polarization brings to sociology now extend to crucial domains of social processes and action, reaching, among others, the arenas of consumption, religions, identities, sexuality, childhood, culture, and science. In this context, the digitization of society and the economy creates and emphasizes dynamics of polarization, while simultaneously opening up new possibilities. Beyond the general impact on social interactions and practices, to what extent are the new social media a factor that promotes expressions of polarization?
Is the modification of work and employment relations effected by the platform economy an additional factor of exclusion from the labour market or of disqualification for increasingly precarious routine occupations? What opportunities does it offer and who benefits from them? How and to what extent does the polarization of jobs threaten and force us to rethink mechanisms of social action and public policies?
At the territorial level, where phenomena related to tourism, migrations, and sports become apparent, urban polarization accentuates trends of concentration in central places and gives rise to new challenges both for centralities and peripheries. In this context, what is the role and what forms of articulation between central and local policies can contribute to addressing exclusions and inequalities of a territorial nature?
If the pandemic created and widened rifts, if it pulverized the universe of emotions, in what other domains has it aggravated polarization? What consequences did it have on trust in the institutions and organizations that, in the areas of health, education, justice, and administration, are the backbone of the societies in which we live? What is the repercussion of the security policies that it ended up legitimizing?
The Portuguese Congress of Sociology will be an in-person and virtual moment of meeting for professional colleagues working in research or in the field, where sharing and discussing concepts, theories, methodologies, and practices in/of sociology might sow new answers to the challenges we face. We would be very happy to have the participation of sociologists who work in non-academic contexts and who can bring their perspective “from the field” that complements the perspective of academic research. Collaboration between academic sociology and intervention sociology is crucial to knowing and acting in the polarized societies in which we live.
We call on everyone’s participation in this crucial and long-awaited meeting of Portuguese-speaking sociology!
To discuss whether the polarization of society has led us to a point of no return is one of the objectives of the XII Portuguese Congress of Sociology, titled Polarized Societies? Challenges for Sociology, which will take place between April 4 and 6, 2023, and is organized by the APS and the local commission of the sociology group of FEUC, CES, CMC, and CIM.
Abstract submission until November 30, 2022!
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The XII Congress will be held in person, with the option of online sessions for presentations from the Thematic Sections/Areas.
When submitting your proposal, you must specify whether your participation will be in person or online. The programme will thus feature both in-person and online sessions.
Presenters who choose the in-person option can also attend any online sessions they wish.
Presenters who choose the online option will have access to all other online sessions.