Fazemos um balanço muito positivo da conferência da Associação Europeia de Sociologia realizada de 27 a 30 agosto de 2024. A Comissão Organizadora está a receber mensagens com feedback muito positivo do evento. A conferência criou espaços produtivos e lançou redes internacionais de trabalho. O Porto recebeu cerca de 4.000 pessoas de 63 nacionalidades, incluindo colegas oriundos de países como os Estados Unidos da América, África do Sul, Moçambique, Austrália, Coreia do Sul, China, Taiwan, Hong Kong e Índia. Os países com maior número de representantes foram Itália (510), Alemanha (443), Portugal (302), Espanha (297), Polónia (208), Finlândia (163), Noruega (129) e Áustria (107).

As pessoas apreciaram particularmente a cerimónia de abertura do evento, a celebração dos 30 anos da associação realizados no Super Bock Arena / Pavilhão Rosa Mota e a Sessão Plenária e programa social na Alfândega do Porto. Vários participantes mencionaram ainda que ficaram agradados com o facto das mais de 90 sessões regulares a funcionar em simultâneo nas Faculdades de Letras, Arquitetura e Ciências serem muito participadas. Tivemos as salas cheias de colegas que estavam ansiosos por voltar a debater os temas sociais mais quentes em presença, depois da última conferência se ter realizado exclusivamente online devido à pandemia (2021). O interesse público que a conferência gerou, nomeadamente na comunicação social, também mostra o relevo que o evento teve para a sociedade civil.

Tratou-se de uma excelente oportunidade para Portugal e para a cidade do Porto. O facto de sermos o epicentro dos debates científicos na sociologia e outras ciências sociais, colocou-nos num lugar cimeiro do pensamento e soluções possíveis para os problemas sociais que as pessoas e as sociedades enfrentam atualmente. É crucial que os sociólogos e cientistas sociais se reúnam em grandes encontros pois os problemas que trabalham se tornam mais visíveis e as suas propostas e recomendações para políticas públicas, baseadas em conhecimento sólido, adquirem mais visibilidade. Estas grandes conferências são importantes para a dinâmica interna do campo científico, mas também para o trabalho que os/as sociólogos/as fazem junto das instâncias com poder de decisão e da sociedade civil.

Ao longo dos quatro dias, ouvimos as sociólogas e os sociólogos falarem de diversos desafios, nomeadamente as tensões que vivemos devido ao aumento das desigualdades sociais, das guerras, das alterações climáticas e das migrações forçadas, a crise de confiança na ciência e na política aliada ao fenómeno da desinformação na era digital e a transformação social urgente que precisamos de construir coletivamente enquanto sociedade. O título da conferência da ESA, “Tensão, confiança e transformação”, pretendeu precisamente condensar os três desafios principais que vivemos atualmente.

Um dos temas destacados da conferência foi também a política de ciência aberta. A ciência de acesso livre para qualquer cidadão é uma prioridade portuguesa e europeia, contudo vemos como a maioria das publicações científicas com maior impacto, ainda se encontram em acesso restrito: os leitores têm de pagar para ler e os autores têm de ter financiamento para poder publicar em acesso aberto. Os colegas que trabalham em países com menos recursos, têm efetivamente menos oportunidades de publicação do que aqueles/as que desenvolvem a sua atividade em países onde o financiamento é mais generoso, mesmo quando desenvolvem investigação de excelente qualidade. Tal e como se tem implementado ao longo das últimas décadas, a política de ciência aberta ainda não conseguiu cumprir plenamente os seus objetivos. A ciência aberta e cidadã é uma questão de justiça social e um objetivo essencial de desenvolvimento humano e social. É necessário que Portugal e a Europa encarem este desafio e unam todos os esforços para que tantos os/as investigadores/as possam publicar em acesso livre, como os cidadãos e cidadãs tenham um acesso efetivo ao conhecimento.

A conferência da ESA trouxe algumas questões centrais para a agenda pública, mas não podemos deixar de continuar a debatê-las e a procurar soluções que melhorem a vida das pessoas. A discussão sobre os problemas deve ser constante uma vez que as sociedades são dinâmicas: os problemas já identificados estão longe de serem resolvidos, vão mudando de configuração e exigem respostas renovadas, assim como novos problemas sociais vão emergindo constantemente. Neste sentido, torna-se imperativo continuar o debate, sempre enformado pelo conhecimento científico.

Ao longo dos quatro dias, ficou claro que através de teorias e metodologias que permitem analisar as relações micro-sociais e as estruturas e dinâmicas macrossociais, a sociologia desvela as causas e as consequências das tensões e desigualdades sociais. A resolução dos problemas das pessoas exige um conhecimento aprofundado sobre as sociedades. A sociologia analisa cientificamente os fenómenos sociais atuais, fornecendo dados sólidos para diagnosticarmos os problemas e assim podermos fazer recomendações para políticas públicas e intervenções no terreno. Os sociólogos e sociólogas a atuar no terreno, junto das populações, aplicam o conhecimento produzido numa perspetiva de melhoria contínua, potenciando a participação das pessoas na resolução dos seus problemas. Deste modo, a sociologia melhora a vida das pessoas e os seus quotidianos através da produção e aplicação de conhecimento útil.

De forma crescente, os sociólogos e sociólogas têm vindo a ser ouvidos e chamados para providenciar conhecimento e propor soluções para os problemas. A pandemia foi um momento chave em que os decisores políticos perceberam que o conhecimento produzido pelas ciências exatas e naturais, mas também pelas ciências sociais, era absolutamente vital para resolver os desafios como que nos deparámos. Contudo, os problemas têm-se avolumado e agudizado. Adicionalmente, alguns desenvolvimentos tecnológicos anunciados como capazes de fazer milagres, tais como a inteligência artificial e a robótica, não só não têm capacidade para solucionar os problemas das pessoas, como precisam do conhecimento produzido sobre as sociedades para estarem ao serviço das pessoas. A sociologia e as ciências sociais e humanas precisam de ser ouvidas atempadamente e no âmbito de uma perspetiva integrada de desenvolvimento, mesmo antes de os problemas se tornarem urgências, participando no planeamento estratégico das estruturas e quotidianos das comunidades.

Orgulhamo-nos do contributo que demos para a dinamização da sociologia portuguesa e europeia e para a discussão dos problemas  sociais que importam às pessoas.