Comunicado da Associação Portuguesa de Sociologia
Situação em Gaza e na Palestina
Enquanto ciência crítica, a Sociologia não pode permanecer neutra perante a violência sistémica, a desumanização, a invisibilização de vítimas e a banalização do mal. Inspirados/as no pensamento de Michel Burawoy, afirmamos que é papel da sociologia pública participar ativamente no debate cívico, denunciando a naturalização da violência e a normalização do sofrimento humano. É nosso dever científico e ético não ser cúmplices da indiferença.
É com base nestes princípios que a Associação Portuguesa de Sociologia (APS) manifesta a sua profunda preocupação e indignação face à situação humanitária em Gaza, marcada por violações sistemáticas dos direitos humanos e do direito internacional. Juntamos a nossa voz coletiva ao conjunto de organizações nacionais e internacionais que têm denunciado a escalada de violência que tem provocado milhares de mortos e feridos civis, em clara violação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, levando a Comissão Independente de Inquérito da ONU a concluir que está em curso um genocídio em Gaza.
A APS repudia os ataques deliberados contra civis e contra infraestruturas essenciais — hospitais, escolas, sistemas de energia — que agravam as já infra-humanas condições de vida da população palestiniana, configurando-se numa punição coletiva e um desrespeito pela Convenção de Genebra. Exigimos a autorização imediata da entrada de ajuda humanitária e o fim do bloqueio prolongado imposto pelo governo israelita, responsável por situações de subnutrição, doença e morte, sobretudo entre as populações mais vulneráveis, incluindo crianças. Condenamos também as deslocações massivas e forçadas da população civil em busca de uma segurança que nunca encontram.
Sublinhamos a crise humanitária sem precedentes, denunciada por diversas organizações internacionais, marcada pela falta de alimentos, de água potável, de medicamentos e de abrigos seguros. Reforçamos, assim, o apelo de múltiplas vozes nacionais e internacionais a favor de um cessar-fogo imediato e da abertura de corredores humanitários, sem qualquer restrição. Repudiamos as constantes violações do direito internacional, nomeadamente contra missões humanitárias, como a Global Sumud Flotilla, alvo de ataque por forças militares israelitas em águas internacionais.
A APS expressa também a sua solidariedade com os/as sociólogos/as, investigadores/as e instituições académicas palestinianas, muitas delas alvo de destruição, censura e perseguição. Igualmente, denunciamos a perseguição de académicos/as que se pronunciam e/ou atuam em defesa da paz, em Israel e noutras partes do mundo. A liberdade académica e o direito à educação são pilares fundamentais da democracia e da justiça social. Rejeitamos narrativas anticientíficas, que tentam silenciar vozes críticas, deslegitimar os direitos humanos universais e promover discursos autoritários. Defender a paz implica igualmente defender a ciência e a justiça.
A Direção
Associação Portuguesa de Sociologia
Lisboa, 7 de outubro de 2025
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